Wednesday, May 25, 2011

Saudade

olho as luzes da cidade
com os seus padrões iluminados
lembro com grande saudade
momentos da terra dos fados

em dias em que o sol brilhou
muitas foram as emoções
algumas a minha mente guardou
outras não chegaram a recordações

outros dias menos felizes
com gotas de chuva nas janelas
lembro palavras que já não dizes
percorro a memória à procura delas

e se tiveres mesmo mudada
se achas que o passado foi um engano
penso eu que estas errada
nesse comum acto humano

lembro tanto essa palavra só nossa
cravada na lingua portuguesa
esperando que cedo também possa
matar saudades da tua beleza

e se para isso tiver de correr
ou por longas distâncias viajar
nada me vai impedir de te ver
nem força alguma de te abraçar

Tuesday, May 24, 2011

Bruma

por vezes vejo pedaços que não conheço
ocultos nessa bruma densa,
negra que me cega
vejo que estão longe do que és
mas tão perto que são inegavelmente teus
perdido em comparações de ser que sempre pensa
pensamento para monólogo de quem não prega
sabedoria que deixa o mundo a meus pés
guardando apenas e só momentos meus

egoísmo puro e duro
suportado pela intolerância de gostar
de pensar sequer em dar um pouco de si
escondo-me nesse canto tão escuro
que me impede de te ver de te olhar
de dizer as palavras gosto de ti.

e nesta confusão que baralha qualquer mente
esqueço as palavras que ficam por dizer
fico mudo sem sentir que sou gente
ignoro todo e qualquer sinal que queiras mostrar
porque ao meu lado tantas vezes te quero ter
mesmo que seja apenas para te ouvir falar

Monday, May 23, 2011

Pedra quebrada

neste pedaço de papel guardo
memórias copiadas dessa pequena pedra
que foi em tempos mais que um fardo
diamante que sem cuidado também quebra

longas noites passadas sem dormir
apenas com o intuito de te ver
perdida num sonho a sorrir
reencontraste a alegria de viver

alma fria magoada sem paixão
esquecida de mimo doce como mel
perdida nos versos de uma canção
que traz arrepios à flor da pele

nos tempos em que provei o teu sabor
nas noites em que um beijo foi pouco
dei ao teu sangue o calor
teu ser amei como louco

e se errei quando o fiz
se não o devia ter feito
nesses tempos sei que fui feliz
nessas noites perdido no teu leito

mas a memória nem sempre permanece
e já não te deves lembrar da canção
aquela que a minha mente jamais se esquece
pois trouxe à boca o coração

Monday, May 16, 2011

Saber inato

cada vez mais chego à conclusão que o medo de mudança devora pessoas, corroi pensamentos e vontades. o espanto de receber mais do que alguma vez se espera incita o medo. perdeu-se esse sentimento inato, animalesco de pedir sempre mais, esse dom de cachorro ou gato que amua por não ter atenção e que quando a tem não se importa com a sua duração ou quantidade. essa memória de alguém quem não esquece por mais que o tempo passe, de quem não cansa por mais que a atenção exista, de quem nada pede quando o que existe se limita ao ar que respira, pequenas migalhas que são tanto para quem nada tem. infelizmente, o ser humano quebra a cada segundo que passa, de resiliência diminuta cedo perde o inato para dar lugar a costumes e fraquezas de quem desconfia de um punhado de conversa, de uma oferta fora de tempo ou da dádiva do ser que pertence a essa sociedade egoista que somos todos nós.

Perder-me em tempos

quero escrever algo que arrepie
quero presente porque pretéritos cansam
passado não é algo em que me fie
futuros não são tempos que me espantam

nesse curto espaço temporal
que separa o teu mundo do meu
perco a noção numa utopia
num sonho em que podia ser teu

e se há coisa mais irreal
pensamento em que jamais acreditaria
é que perder-me junto de ti
é desejo que pode acontecer um dia

ainda que longe estejas daqui
perdida num outro mundo
quero muito que me dês a mão
nem que seja por um segundo

e se não sentiste um pouco de calor
se o frio não correu em euforia
se não houve em ti um pedaço de amor
que prove que serás minha um dia

sinal é que falhei nesta minha missão
nessas noites em que te escutei
encantado pelo teu saber
esquecendo tudo o que conhecia
como desculpa para mais ouvir

por todas as vezes que olhei a tua mão
tantas vezes em lhe tocar pensei
no teu sorriso me quis prender
no teu olhar pensei que me perdia
quando no fundo tudo o que queria
era o doce dos teus lábios sentir

Tuesday, May 10, 2011

Manto branco

morde-me como ontem fizeste nesse imenso manto branco que foi nosso leito de pecado. um beijo decotado junto ao peito devorado por caricias arrepiantes. qual animal de duas costas, gente amarrada sem pudor de dar prazer, de roubar tudo por ter direito, de nada dar por ter dever. não negues o dom de possuir, ser de duas faces transmutado do dia para noite, fria, negra, nesse manto branco onde o calor de dois corpos se confunde com algo que chamamos de amor.

Monday, May 09, 2011

Sete de ti...

longos caminhos percorridos na companhia de nada mais que uma alma seca e vazia, palavras tuas que tantas vezes usaste, que agora a ti roubo para fazer delas minhas. uma vez e outra ainda também, para que como cego que não vê também eu possa ver, perdido neste labirinto que sei sem saída, que a tem, mas que está fechada a sete chaves, esse número imune à sorte de muitos, atrito ao azar de tantos, limiar de perfeição de civilizações extintas num legado de costumes.
entropia de ideias, de caminhos para seguir em frente, no ridículo da impossibilidade de atingir a perfeição da solução do problema, desse único número que escrevo separando a caneta do papel, como me separei de ti,
de ti..
de ti.. de ti..
de ti.. de ti.. e de ti.
dessas sete vezes que percorri labirintos para te encontrar, para te olhar enquanto por momentos, ouvi deliciado cada palavra, de todas as vezes que viajámos mais alto que nunca, nessa imitação perfeita do voar de aves de ossos ocos, como oco e vazio o mundo está agora. e nesta desordem idealistica procuro uma forma de ordenar o que só o acaso pode fazer.

Tuesday, May 03, 2011

Ondas do teu cabelo

houve dias de muitas conversas
presas no silêncio de dois tons
um mar eterno de ideias dispersas
passeando imersas numa noite de sons

a tua voz sempre muito mais presente
pequenas frases que ousas conjurar
colocas o teu saber na minha mente
inata vontade de me enfeitiçar

cedo me perco nas voltas do teu cabelo
nesse jogo permanente que não ousas parar
disfarce que esconde aquele tom tão belo
de tempos distantes difíceis de lembrar

corres sem medo para longe do conforto
de um mar fechado que não te deixa sentir
as ondas quentes lutando no porto
um tesouro guardado pronto a descobrir

e em cada sorriso que deixas fugir
quando nos perdemos a conversar
certamente deves sentir
que algo mais te quero roubar