Wednesday, December 28, 2011

Mil pormenores

ao escrever as frases que se seguem estou a contrariar um pouco a minha filosofia de vida. estou no entanto, também a dar-lhe um suporte ideológico credível. viver a curto prazo implica uma maior intensidade, uma maior dedicação temporal e emocional da pessoa que assim vive. é certo que numa sociedade como a que vivemos, faz muito mais sentido viver a longo prazo, com a ideia de que a vida é uma aproximação irreal de algo infinito. o facto de se viver a longo prazo leva muitas vezes ao desleixo e à falta de valores. não existe riqueza nenhuma no mundo que pague muitos dos bens que temos ao nosso dispor desde o dia que nascemos, sejam bens humanos, materiais ou mesmo intelectuais. um exercício conhecido e muito criticado é o ensaio sobre a cegueira, retratado por alguém que merece a minha mais profunda admiração, pelas ideias, pela crença e pela originalidade. poucas pessoas imaginam o mundo sem ver, poucas pessoas dão o devido valor a esse bem... talvez porque nunca o perderam.
poucas pessoas dão valor aos amigos. amigo é qualquer um, qualquer colega, qualquer pessoa que vá na rua. muitas vezes até os inimigos fazem parte dos seus amigos. não é dado o devido valor, a dedicação necessária, a atenção e o tempo. sim o tempo. como se não fosse preciso tempo para dar valor, tempo para dar dedicação ou tempo para dar atenção. é preciso tempo para todas elas, mas como é a vida, também o tempo é limitado, tal como a lista de amigos deve ser, pois só assim a palavra terá o verdadeiro sentido.
podia enumerar bens e mais bens, água, luz, comida, um carro, telefone, ouvir, andar, os dedos de uma mão.
cada vez mais as pessoas vivem habituadas a ter, esquecem os pormenores e consideram tudo como dados adquiridos. é triste que assim seja, especialmente para alguém que vive assim, a curto prazo, onde o dia a dia é feito de pequenos pormenores que fazem o mundo um sítio tão melhor.
às vezes basta ouvir uma palavra, basta olhar e reconhecer um gesto, basta ter a coragem de ser diferente. muitos não fazem ideia, outros fazem e entendem-me perfeitamente.
para eles a vida passa antes que a possamos viver. para eles, que apenas existiram, não há mil pormenores para descobrir amanhã, dois amigos para cuidar e uma pessoa para amar, existe apenas um passado incompreensível e um futuro sem rumo.
"Quem tem um porquê de viver, quase sempre encontrará o como." Nietzsche