Tuesday, December 25, 2012

A Chuva

olho no vidro a cor cinzenta que te pinta, vejo-te a ti e através de ti. vejo-te cair devagar, com força e novamente devagar. corres com a rapidez de quem fez isso a vida toda. oiço-te enquanto me despertas os sentidos, enquanto penso em ti em noites que custa adormecer. sei que essa cor não é tua, não te pertence, mas está sempre presente como se fizesse parte de ti. sinto-te muitas vezes perto mas não te posso tocar, apenas contemplar. oiço-te quando me acordas ou me assustas, quando quero que vás embora sem deixares lembranças. mas um dia vou correr, vou tocar-te e sentir a forma como tocas a minha pele, como não és a mesma depois de o fazer. nesse dia vais cantar para mim e eu dançarei à chuva.

Friday, December 21, 2012

Clareira de luz


e se eu te disser que o porquê de escrever é tão somente a saudade. guarda este segredo, mas não guardes a saudade porque magoa estar repleto dela. às vezes não chego a tempo, a chuva não me deixa chegar a tempo e seu som não me deixa ouvir lágrimas que podem, neste momento, estar a cair. e os mares de água e sal, as noites de escuridão onde são poucas as clareiras de luz, os momentos que procuro incessantemente para guardar a esperança de um sorriso. porque na escuridão são raros os sorrisos. mas existem, como pássaros que voam por portas entreabertas que nós pensamos ter deixado fechadas. que cantam em nós contando calmos segredos que fazem palpitar o coração, lhe dão vida e alegria, que devolvem sorrisos e um acreditar em coisas boas que ontem não existiam. um dia elas vão chegar, um dia vão deixar de ser sonhos para sermos nós. é difícil acreditar, mas eu também não acreditava que tu um dia ias chegar.

Monday, December 17, 2012

Um só nome próprio

o amar não é mais do que uma confusão de sinónimos. é uma mistura de gostares, de quereres, de sentimentos sem sentido que nos dão voltas e mais voltas na barriga. são borboletas que voam quando a palavra saudade paira na nossa mente. são todas aquelas noites sem dormir à espera de saber de ti, à espera de adormecer porque nos sonhos tudo muda, tudo pode ser como nós queremos. é esperar que o tempo passe a correr para enganar saudades, para enganar arrepios e fazer pousar as borboletas. amar é apenas e só isso, muitas palavras de sons diferentes, escritas no mesmo papel, mas que quando olhamos para elas, para todas elas, apenas vemos uma só palavra, um só nome próprio. isso é amar.

Sunday, December 16, 2012

Existem bolhas de sabão

dizes-me para eu escrever mas eu não sei, não sou bom nessa arte de ligar palavras e fazê-las tocar mais do que a cor doce dos teus olhos. quem escreve bem não deixa as palavras presas no exterior, faz com que elas corram pelo corpo como o arrepio de um beijo que passou quente e frio pela pele. e não deixa que elas fiquem apenas na pele, leva-as até ao coração. isso não sei fazer. tu sabes que não
 sei. existe o Mar da Palha, existem Micro contos, existe a Fábrica de Escrita e a Associação de Palavras, mas eu sinto-me pequeno e sem importância ao lado da perfeição de um poema que nos beija o pensamento. deixo as imagens para a imaginação, esqueço as vistas de miradouros de que tenho saudades, de que tenho memórias. entrego-me à saudade e aos meus defeitos, aos sentimentos que não sei esconder e a tudo aquilo que te digo em cada frase, deixo sempre um gosto de ti disfarçado de ponto final. não de interrogação ou exclamação, esses são demasiado complexos e aquilo que sinto por ti é o sentimento mais simples. e tu sabes que sim, porque gostar de ti é simples, tão simples como a felicidade de uma criança que brinca com bolhas de sabão.

Tuesday, June 26, 2012

Duas linhas


Já passou uma hora desde que permaneço assente em duas linhas, preso entre corredor e janela, rodeado por verde de árvores e cortinas. As cores por aqui são mais que muitas, mas não tantas como as que vejo pintadas no céu depois da chuva. São poucas as palavras que não me lembram o que ficou para trás, neste caso para a frente. É um pormenor de sentidos mas é essa a verdade, tal como na maioria das viagens de comboio, por vezes também na vida viramos as costas ao futuro. Todos os dias, nestes últimos que passaram, tomo consciência do que importa e do que não importa. Como nestas duas linhas, que não se cruzam, há quem passe perto mas não o suficiente para tocar. Há também quem passe na linha do lado e salte para a mesma que nós e aí fica para sempre.

Monday, June 18, 2012

Caixa de arco-íris


É preciso inspiração, dom e imaginação para desenhar aquilo que vemos. Com uma caixa de lápis de cor à nossa frente começamos por pegar no preto e no branco para fazer os contornos. É verdade que a vida a preto e branco tem um tom de vintage muitas vezes adorado, muitas vezes desejado. É fácil querer ter nascido noutra época em que a vida, apesar de ser a preto e branco fosse mais cor de rosa.
Há também quem pegue nas sete cores e pinte um arco-íris, sem preto, sem branco, apenas aquelas cores que vemos pintadas no céu. Poucas pessoas acreditam num mundo assim, sempre rosa, verde e vermelho, com fundo azulado e um amarelo bem grande e redondo. Há quem apenas mostre este mundo ao mundo. Uma espécie de sorriso que permanece no dia a dia para mais tarde, já na noite e na solidão, pegarem no lápis cinzento e pintarem tudo outra vez, sem sorrisos e com aquele sabor salgado das lágrimas que correm pelo rosto.

Sunday, June 17, 2012

um, dois, três, assim começou o tempo

Parece que hoje, a cada esquina, a cada olhar encontro o tempo. Sempre ali parado à espera que eu faça algo que o volte a fazer contar. Não um conto de histórias de encantar, apenas contar, correr, deixar passar o presente para que este replique o futuro, esquecer pretéritos perfeitos e imperfeitos que deixam saudades, às vezes.
Mas ele, o tempo, merece uma palavra de apreço, merece elogios e valor. Não é senso comum mas ele vale mais que tudo e dele tudo depende. Não há ouro que o troque, não há força que o pare, não há nada sem ele. Fortunas vão e vêm, enquanto ele permanece ali, impavido e sereno, no seu eterno trabalho de contar até ao infinito.
Poucos há que não desperdicem esse tempo, esse seu tempo limitado para viver. Gastam-no com sonhos alheios, desperdiçando segundo após segundo na esperança de viver a vida de outrem. Outros há que calam coração e razão, fecham-nos dentro de uma ampulheta à espera que o último grão de areia caia. Mas são eles que sabem, são eles que têm razão. E nesta vida a ampulheta não vira, nesta vida a areia só cai uma vez e quando o último grão cair já é tarde demais. É tarde porque o tempo não parou para pensar, contou e contou, todos os minutos, mesmo aqueles que usei para escrever este texto. E valeu a pena? Vale sempre, porque a alma não é pequena.

Sunday, May 13, 2012

Imagination

Por vezes existe a sensação que nenhuma companhia é boa, porque em tempos foi boa de mais ou porque no entretanto de um piscar de olhos essa companhia se tornou a pior que podíamos ter. Um livro é sempre uma boa companhia, porque fala connosco e porque deixa saudades quando termina, porque o guardamos num canto e sabemos que ele lá estará sempre que precisarmos de companhia. Está preso a nós eternamente até que as suas folhas se apaguem calando a sua voz de uma vez por todas. Este ano custou a passar, os acontecimentos parecem infinitos e não param. Lembram o tempo, que no seu tic tac continua a contar segundos e minutos, sem pressa de concluir a sua interminável jornada para o fim da existência. As companhias que aparecem não são boas. Podiam ser, se o patamar não estivesse agora tão alto, num lugar onde tão poucas pessoas conseguem chegar. Por mais egoísta que possa parecer, é essa a verdade. Não existe um pouco de interesse na futilidade de conversas que já cansam, que não dão origem a sinapses, a impulsos que correm desenfreadamente por esses pedaços de gente que ninguém sabe bem explicar, misturando pensamentos, ideias, desejos e sonhos. Por mais que o homem estude o cerebro, não consegue encontrar o seu segredo. Não consegue entender como a imaginação é formada, como essa mistura de ideias consegue fazer algo novo, algo antigo, algo que fez ou fará a obra nascer. A imaginação fascina-me, hoje e sempre. Imagem daqui

Sunday, January 22, 2012

até aos 30

"É raro ver-se um artista na casa dos 30 ou dos 40 anos contribuir com alguma coisa realmente extraordinária." é raro hoje encontrar alguma coisa que realmente interesse, alguém que realmente interesse, alguém fantástico, que entenda, compreenda, veja com olhos de ver diversos pontos de vista, ainda que muitas vezes não partilhe a mesma opinião. confesso que não partilho muitas das opiniões que vejo todos os dias, confesso que não tenho paciência e que estou cada vez mais desiludido com o meu país, com as pessoas que nele vivem e até com a minha vida. estou cansado e farto de tanta ignorância. longe de mim saber tudo, mas tento em todos os momentos ver ambos os lados. mas por muito racional que seja, ainda não consigo controlar o irracional. no dia que conseguir esse feito vou ser feliz. até lá continuarei reduzido à minha insignificancia. até aos 30 ainda tenho tempo, talvez nessa altura compreenda se estava certo ou se sempre estive errado. talvez nessa altura haja saudade da altura em que ainda não tinha 30 anos, da altura em que me preocupava mais com o mundo que me rodeia do que comigo.