Saturday, April 30, 2011

Doce tom rubro

nuvens negras pelo céu espalhadas
doce tom rubro espelhado no horizonte
tristeza e alegria de mãos dadas
vista esta imagem do cimo de uma ponte

mudanças foi apenas um tema
conjugado em todos os tempos
percorrendo os verbos de um esquema
partilhando certos momentos

é fácil roubar sorrisos
esquecer tudo por esses olhos verdes
lançar me num carrossel de esquissos
querer saber por quem te perdes

e nessas vezes que a mão te dei
em que a acção ignorou de longe o pensar
sabes tão bem quanto eu sei
que não era apenas isso que te queria dar

Thursday, April 28, 2011

Sentidos

segredos escondidos num horizonte distante
sonhos perdidos numa obcessão sem fim
desejo impunente pela perfeição constante
fará sentido viver a vida assim

patamares regidos por regras utópicas
artigos definidos no longe passado
máscaras de acções irreais metamóficas
fará sentido viver a vida amarrado

sociedades podres de tão fracas mentes
hábitos boémios da vida presente
leis dadas por cerebros dormentes
fará sentido viver esta vida demente

pessoas estragadas sem algo de bom
guiadas por gostos eufeminizados
transmutam os deveres para o seu tom
fará sentido viver sobre direitos passados

beleza ditada por gente sem gosto
formas que tocam de perto a destruição
vidas em risco apenas por um posto
fará sentido viver sem compaixão

Tuesday, April 26, 2011

Utopia

gostava de ter caneta
para estas palavras te dar
podia ser azul ou preta
só queria que as pudesses guardar

o teu sorriso numa folha de papel
ilustre desconhecida em terra de ninguém
desenhado em contornos de uma pele
bem longe do meu toque porém

nesses metros que separam
o teu olhar de se cruzar com o meu
muitos sem saber passaram
desconhecendo o quanto queria ser teu

nunca é uma palavra de mentira
pois sei que não mais te verei
tomo o folego de quem não respira
e só com estas palavras ficarei

não perco a esperança de um dia
apenas e só por mero acaso
perceber que não era apenas eu que queria
a este pequeno sonho dar aso

perdido na mais pura imaginação
vou continuar a escrever
palavras que um dia significado terão
se na minha companhia te quiseres perder.

Wednesday, April 20, 2011

Primeira Pessoa do Pretérito Imperfeito

esteve em dias a lua no teu umbigo
como em dias estive também perdido
em noites que passaste comigo
em noites que fui teu porto de abrigo

por longos caminhos em busca de um segundo
apenas um só minuto na tua companhia
todos os dias corri o teu mundo
na esperança de te devolver a alegria

essa que há muito foi destruída
por todas e mais uma razão
por pessoas que habitam a tua vida
mas que mostram não ter coração

por isso andas só nos teus pensamentos
não vês a beleza de uma rosa
perdes tão belos momentos
seja em poema seja em prosa

pois em letras me desfaço
com elas procuro o que perdi
tenho de admitir com embaraço
a minha vida não faz sentido sem ti

Monday, April 18, 2011

Preciso querer

fazes bem ao meu pensar neste vazio de memórias, longe dos pensamentos de outrora está o calor que não esqueço, esse ansia de ter, de querer mais do que devo, mais do que mereço. em tempos que estão longe, como se o tempo fosse algo que pode estar, que passa ao sabor do vento mas não anda nem está parado. esse mar de contradições, sentimentos, escolhas e decisões, querer a tua companhia no meu regaço, que fiques perto, bem perto do meu sorriso pois fazes parte dele em todo e qualquer momento. em suma, resumindo a essência de pequenas certezas, preciso de ti felicidade.

Friday, April 15, 2011

Sapphire

fiquei encantado na primeira vez que vi, brilhantes safiras luzindo, chamando a atenção de actores principais para um mero figurante, chegaste tarde nessa noite, ainda de inverno. antes tarde que nunca, antes um segundo que tempo algum na presença do teu ser. faces rosadas em cada pergunta, esse corar envergonhado de quem sabe que exponenciou loucuras proibidas, de quem foi além da lei e do que o mundo nos impõe, de quem vive a vida longe de passatempos, longe do vício de ser comum e igual a tantos seres que não merecem um sorriso. mas tu sorris, escondes sentimentos magoados numa alegria extasiante, que contagia almas próximas, mudando a sua cor morta de tanta inercia para tons vivos, brilhantes como esses olhos que escondem lagrimas, diamantes que por vezes ousam fugir, ousam correr pela face rosada, num crime que não é punido por este mundo. essas almas que te acompanham, pedras preciosas que jamais deves ousar perder, para as quais os segundos contam, perdidos e esquecidos para sempre na imensidão profunda do teu olhar, merecem todo o teu carinho, tanto ou mais que aquele que empenhei nestas palavras que te dou.

Tardes de Inverno

a lembrança de procurar debaixo da pele, pedaços de ti que já não tenho, vestígios de noites em que nos escondemos debaixo de estrelas, pontos luminosos do céu que um dia foi meu. um dia terei, farei, direi palavras, meros instrumentos que tocam tão fundo, tão dentro de ti, onde mais ninguém ou alguém ousa possuir o dom de sentir. prende-me, não te peço mais, não te peço menos que aquilo que sei que queres, não invoco saudades, tempo ou espaço, não peço perdão, piedade ou pena, sentimentos feios num mundo quebrado de tanto ódio e pouca bondade.
esse bem que se encontra perdido, imaculado em pétalas de magnólia que vimos em tardes de inverno, estação triste e cinzenta lutando incessantemente contra os teus sorrisos, contra o meu olhar deliciado na tua imagem, vidrado em transformar segundos de bem em minutos de eternidade. passo essa eternidade sozinho, à espera que acordes e abras os olhos, que vejas em teu redor mais do que um quarto escuro e sombrio, que vejas mais do que uma pessoa, um ser, uma alma lutando para sobreviver vivendo num mundo que nada oferece, apenas dá aquilo que não queremos, somente ignora os desejos mais profundos de uma noite passada entre lençois e o quente da tua pele, o teu doce respirar, calmo e profundo depois de teres sido minha, depois do adeus, depois de tudo o que ficou guardado em memórias de folhas brancas. não prometo sorrisos, não quero dar mais do que o que tenho, não quero nada, apenas um pouco de nada, um pouco de tudo o que tens para me dar.

Thursday, April 14, 2011

Fitas

Eterna saudade agora desperta
de muitos momentos vividos passados
uma força enorme o peito te aperta
um suspiro sentido deixa teus olhos molhados.

numa fita...

Tuesday, April 12, 2011

Eufemismos

hoje, mais uma vez me disseram, usando palavras simpáticas, que vivo na utopia da caracterização alheia, num misto de agradar com sobrevalorização da pessoa que se encontra em conversa comigo. há quem goste do que escrevo e que sonhe com dedicatórias semelhantes, no entanto, cedo percebem que elogio, que digo o que penso sem medo de pensar, seja bom, seja mau. penso de forma diferente, com conceitos que poucos usam e que a ninguém importa, apenas a mim. não vou mudar a minha forma de pensar, mas entristece-me a forma como me tratam, pensei que merecia algo mais, algo melhor. talvez não mereça, talvez o ignorar e o "mau trato" sejam a base de tudo.

Monday, April 11, 2011

Crises de direitos

um pequeno à parte no habitual conteúdo do blog onde reinam rimas e palavras bonitas, floreados literários que muitas vezes adquirem multiplos sentidos para quem lê, mas que para mim, apenas numa direcção, são claros como água.
abordo uma questão que de certa forma me irrita, a crise política e económica que atravessamos, a luta por direitos, sempre por direitos esquecendo deveres.
há quem culpe políticos pelo que passamos, outros culpam entidades de regulação económica e bancos, capitalismo e globalização, petróleo e especulação, não faltam "bodes" para espiar.
mas a resposta à crise que atravessamos neste momento é muito simples: portugal é um país onde se gastou sempre mais do que se tinha. basta olhar para a época dos descobrimentos, quando o ouro chegava em barcos para honrar a podridão da igreja de então sobre a forma de talha dourada. uma breve comparação com essa época basta para ver o quanto este hábito se encontra enraizado na nossa cultura.
há muito que defendo que a razão de algumas políticas falharem é a falta de educação da população em geral, uma multidão vidrada para direitos sem olhos para deveres, sem margem para cedências em prol do bem geral, onde os vícios e uma mistura de inveja e de desejo de querer mais do que quem mora na casa do lado levam a um endividamento exponencialmente crescente. uma política economica irracional e expancionista, onde o emprestar sem margens de segurança, leva a população a gastos desmesurados em bens, muitos deles superfulos, que pertencem a classes economicamente superiores, muitas delas também em situação precária neste momento. não querendo estratificar a sociedade, apesar de assim o parecer, defendo que o crescimento deve ser sustentado e essa filosofia deve ser aplicada a cada família. cada pessoa ou conjunto de pessoas deve ter perfeita noção de onde pode chegar, de quanto e quando pode gastar.
certo que muitos não têm possibilidades, como se costuma dizer, mas muitos têm também vergonha de pedir apoio a entidades que o dão, mais uma vez porque o vizinho não pode saber.
a irresponsabilidade banqueira ajudou à situação, onde primeiro os bancos e mais tarde as empresas de "crédito fácil", levaram ao endividamento herculaneo de muitas famílias. portugal comportou-se exactamente como a maioria das famílias portuguesas, compras atrás de compras, obras e carros, um governo à imagem de portugal, gastanto mais do que podia e devia endividando-se mais do que recomendável até ao ponto de pagar a prestação da casa com o cartão de crédito.
por tudo isto digo que a culpa não foi única e exclusivamente dos políticos, mas de todos os que se comportaram de forma economicamente irresponsável. posso ser mal entendido por muitos, mas estou convicto que a minha opinião está correcta em muitos aspectos, estando também aberta a algumas melhorias que encaixem de forma adequada.

Sunday, April 10, 2011

Rocha fria pedra morta

viste aquela estrela?
raio de luz nesta noite quase dia,
pedra que rasga a pele de uma terra magoada,
que toca o ar que custa a respirar.
rocha fria.
rocha sem vida de tão gelada,
cedo aquece por dois corpos juntar
nesse jogo em que só um prevalece,
onde a beleza pouco ou nada importa,
pois num segundo tudo acontece.
dessa pedra morta
que traça uma fina linha no céu,
iluminando pensamentos sonhadores,
apagando esse tom breu
assim como todos os maus amores.
cedo o calor se torna apagar,
assim ditam as regras sem excepção,
mas elas foram feitas para quebrar,
como se quebra o coração.

Monday, April 04, 2011

Cores dos dias

dizem que é louca a cor amarela
de quem não sabe o que faz ou o que quer ter
cor que muitas vezes preenche a tela
que retrata os traços do meu ser

vezes essas que perco conta
como as noites que passo sem dormir
entregue a palavras presas numa ponta
desse lápis acabado de partir

laminas de grafite que cortam a pele
sujando o branco desse falso livro
cravando fundo letras no papel
como diamante num pedaço de vidro

o parecer simples da fragilidade
o simples passar com pele em veludo
as palavras presas na simplicidade
de uma história gritada em tons de mudo

sem qualquer ruído e uma só cor
o cinzento ocupa todo o espaço pedido
pergunto o porquê de não ter valor
deste poema não fazer qualquer sentido

e embora o céu brilhe em tom azulado
o dia ainda permanece cinzento
queria que o sol parecesse cansado
e que a lua aparecesse neste momento

para a ver mostrar essa luz tão bela
roubada a quem todo o dia brilhou
tantas vezes de cor amarela
cor com que esta história começou

Sunday, April 03, 2011

Fados de um jardim





hoje a névoa disfarçou o céu azulado,
num jogo de cumplicidade onde a lua tem seu papel,
destinados a uma longa eternidade lado a lado,
longe desta terra amarga como fel,
a janela permanece intacta, à espera do teu toque,
que recordo quente.
que lembra longas tardes em que o sol não dá lugar,
à lua, ao luar.
em que durante as horas finais ele rouba cada minuto,
como eu te roubo a ti,
para que possamos ficar mais um pouco acordados,
enquanto palavras tuas escuto,
como queria escutar aqui,
essa voz que me faz lembrar de fados.
sei que longe deles queres estar,
dona e senhora da razão,
mas há momentos em que não consegues evitar,
ouvir a voz do coração.

Saturday, April 02, 2011

Mãos Quentes


Gostava de deixar estas letras ao teu lado num despertar,
nessas manhãs de verão que ainda longe se encontram,
com palavras simples numa imitação do meu olhar,
enquanto vislumbro esses gestos que os teus cabelos moldam.
Falas a certa altura de inspiração,
do que torna diferentes essas páginas brancas,
do que é mas já foi passado na tua mão,
noites loucas foram tantas.
Puxas outro cigarro no meio da música,
deixas a névoa o livro imitar,
sem som ou cor,
apenas o misto de branco e preto,
dois opostos simples de um tom
que faz brilhar o teu olhar.
Tens as mãos quentes.
É tudo tão simples,
é sempre,
querer ver o que não conheço
como não vejo hoje a lua,
como não vejo a janela aberta do teu quarto
nem sinto as tuas mãos quando a fechares.