Tuesday, June 26, 2012

Duas linhas


Já passou uma hora desde que permaneço assente em duas linhas, preso entre corredor e janela, rodeado por verde de árvores e cortinas. As cores por aqui são mais que muitas, mas não tantas como as que vejo pintadas no céu depois da chuva. São poucas as palavras que não me lembram o que ficou para trás, neste caso para a frente. É um pormenor de sentidos mas é essa a verdade, tal como na maioria das viagens de comboio, por vezes também na vida viramos as costas ao futuro. Todos os dias, nestes últimos que passaram, tomo consciência do que importa e do que não importa. Como nestas duas linhas, que não se cruzam, há quem passe perto mas não o suficiente para tocar. Há também quem passe na linha do lado e salte para a mesma que nós e aí fica para sempre.

Monday, June 18, 2012

Caixa de arco-íris


É preciso inspiração, dom e imaginação para desenhar aquilo que vemos. Com uma caixa de lápis de cor à nossa frente começamos por pegar no preto e no branco para fazer os contornos. É verdade que a vida a preto e branco tem um tom de vintage muitas vezes adorado, muitas vezes desejado. É fácil querer ter nascido noutra época em que a vida, apesar de ser a preto e branco fosse mais cor de rosa.
Há também quem pegue nas sete cores e pinte um arco-íris, sem preto, sem branco, apenas aquelas cores que vemos pintadas no céu. Poucas pessoas acreditam num mundo assim, sempre rosa, verde e vermelho, com fundo azulado e um amarelo bem grande e redondo. Há quem apenas mostre este mundo ao mundo. Uma espécie de sorriso que permanece no dia a dia para mais tarde, já na noite e na solidão, pegarem no lápis cinzento e pintarem tudo outra vez, sem sorrisos e com aquele sabor salgado das lágrimas que correm pelo rosto.

Sunday, June 17, 2012

um, dois, três, assim começou o tempo

Parece que hoje, a cada esquina, a cada olhar encontro o tempo. Sempre ali parado à espera que eu faça algo que o volte a fazer contar. Não um conto de histórias de encantar, apenas contar, correr, deixar passar o presente para que este replique o futuro, esquecer pretéritos perfeitos e imperfeitos que deixam saudades, às vezes.
Mas ele, o tempo, merece uma palavra de apreço, merece elogios e valor. Não é senso comum mas ele vale mais que tudo e dele tudo depende. Não há ouro que o troque, não há força que o pare, não há nada sem ele. Fortunas vão e vêm, enquanto ele permanece ali, impavido e sereno, no seu eterno trabalho de contar até ao infinito.
Poucos há que não desperdicem esse tempo, esse seu tempo limitado para viver. Gastam-no com sonhos alheios, desperdiçando segundo após segundo na esperança de viver a vida de outrem. Outros há que calam coração e razão, fecham-nos dentro de uma ampulheta à espera que o último grão de areia caia. Mas são eles que sabem, são eles que têm razão. E nesta vida a ampulheta não vira, nesta vida a areia só cai uma vez e quando o último grão cair já é tarde demais. É tarde porque o tempo não parou para pensar, contou e contou, todos os minutos, mesmo aqueles que usei para escrever este texto. E valeu a pena? Vale sempre, porque a alma não é pequena.